Conjunto Musical Gilez

Os Anos Dourados foram reluzentes demais para serem esquecidos.

31.5.06

A Verdadeira História do Meu Baixo


Eu tenho um baixo Fender muito bala. É pesado como um baixo deve ser, não tem muita frescura de equalização - é deixar o botão do tom no grave e deu. Mesmo assim, tem um som legal. Esses dias o paulinho paulada, que bota som nos shows eventualmente, comentou "afude esse teu baixo, cara. Não é aqueles Fender mexicano falcatrua."
Respondi que na verdade é um Fender brasileiro, série Southern Cross. E foi tudo o que eu soube dizer pra ele - nunca fui fanático por instrumentos, nem mesmo tentei saber melhor como é a tal série brasileira da Fender, fabricada pela Giannini.
Mas depois disso fiquei curioso e fui atrás. Descobri um depoimento do engenheiro Carlos Assale, fundador da marca Dolphin e responsável pelas Fender fabricadas no Brasil quando trabalhava na Giannini. É do site "Super Guitarra". Eis a verdade sobre as Fenders brasileiras, das quais meu baixo é um nobre representante:

P - Você foi o responsável pelas Fender by Giannini. Como foi possível licenciar a marca Fender?
R - É verdade, o projeto Southern Cross. A Giannini tinha conseguido em 1990 uma licença para a fabricação das Fender aqui. O objetivo da fábrica americana era ter um fornecedor de violões tradicional, a quem pudesse confiar essa linha de instrumentos. Foi uma troca de interesses. Coincidentemente, foi na mesma época que eu estava deixando a Dolphin. O Giorgio Giannini - que apesar de ferrenho concorrente tinha comigo uma relação de amizade, respeito e admiração - me convidou para assumir a direção técnica da empresa e, entre outras coisas, tocar o projeto
Fender/Giannini. Começamos a trabalhar em 1991 e enviar amostras para aprovação. Eu fui a interface com a Fender, acompanhado do Roberto Giannini. Visitamos as fábricas de Ensenada e Corona muitas vezes, trabalhamos o produto, demos aulas sobre design e fabricação de acústicos.
Aprovamos o braço em pouco tempo mas o corpo levou uns dois anos e MUITAS amostras - foi preciso muitas mudanças de ferramental. É incrível como a Fender é sensível ao shape da Stratocaster, que é na verdade sua marca registrada, sua identificação. No fim recebemos um fax do Dan Smith, diretor de marketing da Fender, dizendo que o produto tinha melhorado 4000% e que a confiança era tanta que pela primeira vez eles iriam permitir que um produto
produzido fora de suas fábricas e sem seu envolvimento comercial ostentasse o nome Fender no headstock. Fabricávamos em lotes e eles só iam para o mercado depois que um representante deles viesse fazer uma minuciosa inspeção. Elas eram até pesadas!
Foram produzidos cerca de 5000 instrumentos de 1993 a 1995. O projeto foi abortado porque as peculiaridades econômicas do Brasil somadas ao royalty muito alto tornaram tudo economicamente inviável. As más línguas dizem que foi por problemas técnicos que tudo parou, mas nunca houve nenhum problema desse tipo.

P - As Fender brasileiras tinham a mesma qualidade que as americanas, mexicanas e japonesas?
R - Conheci bem essas fábricas e seus produtos. Posso dizer com segurança que, fora o hardware e a captação, não há nenhuma diferença em relação às americanas. Com as outras não há nenhuma. É o que o pessoal que vem testando e comparando tem descoberto.

P - A Giannini chegou a fabricar violões para a Fender? Se sim, esses violões foram exportados? Eram top de linha ou apenas uma linha básica?
R - Não chegou a fabricar PARA a Fender, mas para o mercado interno. Era um violão tipo "Folk" (estilo D da Martin), comercializado por aqui com a marca Fender. Na verdade esse foi o verdadeiro início do projeto Southern Cross. Eram top, inclusive com tampo maciço.
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30.5.06

Amo essa música

A abertura do seriado Havaí 5-0.

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28.5.06

Pra cantar juntinho

Heartbreak Hotel, com letra e tudo. Esse Youtube é demais, putzgrila. Estou fazendo um acervo de coisas do tipo, vou soltando aos poucos no blogue. Tem muita coisa legal no site.

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26.5.06

É hoje!



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24.5.06

Sexta tem show

O convite com textura apropriada vem depois, mas tocaremos na sexta no Troianos Pub - um bar que abriu há pouco tempo na Independência 1010. Pode se dizer que estamos subindo na vida (mais especificamente, a Felipe Camarão) e também que a banda está se aproximando do erudito (o bar fica perto da Ospa).

Besteiras ditas, fica o convite e a promessa de novos temas. Aliás, mesmo em um ano de trabalho muito duro em nossas respectivas profissões, estamos conseguindo colocar na média 2 músicas novas por mês no repertório. Como antecipou Alexandre de Santi anteriormente, Little Sister, do Elvis será uma das novidades. A outra é surpresa.
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19.5.06

Discos que a Gilez não toca - 2

Bom, esse a gente não vai tocar porque a Gilez não tem piano. E se tivesse, eu não saberia nem por onde começar a tocar algo do Rúben Gonzalez. Indestructible é um daqueles presentes dos programas p2p que a gente tem de valorizar, botar numa pastinha de veludo no computador e não deixar ninguém chegar perto com o botão Del na mão.
Rúben Gonzalez foi um talento precoce e se formou no conservatório de Cienfuego em 1934. Até tentou virar médico, mas acabou doutor da malemolência cubana nas teclas do seu piano. Para quem viu "Buena Vista Social Club", ele está lá. Depois do filme, que fez quando já estava aposentado há uns 15 anos, Rúben gravou seu primeiro disco solo aos 78 anos. Indestructible foi o seguinte, lançado em 1998.
Vejam ele tocando. Dois dedos sobre o teclado, os indicadores de cada mão. Para mim, é um resumo da música de Indestructible: simplicidade, fluidez, naturalidade. Com perícia, Rúben Gonzalez nos coloca num deque cubano tomando um mojito, montando suas melodias, brincando com acordes, deslizando escalas, parando para bater um papo com a percussão.
Mãos à obra. Se eu achei Indestructible por aí, qualquer um consegue. No céu dos músicos desde 2003, Rúben Gonzalez dá uma piscadela sempre que alguém bota "Date una Vueltecita" na vitrola.
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16.5.06


Meu mundo caiu

O riff de Little Sister, do Elvis, foi gravado pelo Hank Garland com uma Fender Jazzmaster (foto à esquerda). Acabou. Tudo o que eu sempre acreditei foi por água abaixo. Até a tarde de hoje eu jurava de pé junto que aquele era o melhor riff de Telecaster (abaixo) de todos os tempos.

Isso tem repercussões sérias na minha vida. Comecei a preferir Telecasters por dois motivos:

1) porque o David Gilmour e o Mick Green tocam Teles no Run Devil Run e no Live at the Cavern. Me apaixonei pelos timbres.

2) por causa do timbre do riff de Little Sister, do Elvis.

Até pouco, eu pensava que o responsável pelo item 2 era o James Burton, mestre da Telecaster, que tocava com o Rick Nelson. Semanas atrás o amigo guitarrista Filipe Maia me deu o toque: era outro o mestre. Hank Garland. Foi o primeiro baque. Minhas convicções estavam desmoronando. Fui pesquisar e confere. Tio Hank, indeed, o melhor sessionman de Nashville.

Hoje, vasculhei o Google em busca de mais informações sobre a canção e meu queixo caiu novamente. A história corrente contada em muitos sítios dão conta que Hank Garland gravou o riff com uma Jazzmaster que estava jogada num dos estúdios de Nashville onde Elvis gravou boa parte dos hits da década de 60. Garland inventou o maldito riff na hora, às 3h30 da manhã, depois de três tentativas xôxas da banda do Rei de gravar a canção. Elvis chamou o mestre, que estava em outro estúdio, e pediu uma mão com uma música. O filho da puta me veio com o riff mais safado da década de 60.

Little Sister está entrando no nosso repertório nos próximos shows.
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14.5.06

Discos que a Gilez não toca - 1

Toda banda cover sofre com pedidos insensatos no meio do show. É possível resumir o fenômeno na expressão "Toca Raul", apesar de eu nunca ter ouvido de alguém que estivesse pedindo isso a sério. Uma enquete interessante seria perguntar a músicos qual foi o pedido musical mais nadaver recebido. Na Gilez para mim foi o de uma guria que passou uma hora pedindo "Tempos Modernos" do Lulu Santos - e pior, para ela e as amigas subirem no palco e cantar. Jisús.

Mas a Gilez é uma banda cover intelectualizada, a gente tem critérios. De modo geral, tocamos músicas boas americanas e inglesas feitas até 1967. É o ano do Sgt. Peppers, símbolo máximo da perda da inocência musical no rock. Dali para frente, amor virou também ideologia e não só sentimento, letras viraram manifestos, arranjos viraram experimentos, ruídos de guitarra viraram arte, pedaço de lata de atum virou bateria. (Antes que algum purista reclame, existem exemplos dessas coisas antes de 67, mas vocês me entenderam, é um símbolo. Tipo "idade moderna / idade contemporãnea" que a gente estuda em bimestres diferentes na oitava série.)

Há exceções, que serão explicadas outro dia, mas não tocamos, por exemplo, "Start me up" dos Stones porque é de 1981. Com esse curto recorte histórico do repertório, a possibilidade de recebermos pedidos inatendíveis aumenta em relação às outras bandas cover. E explica a enorme lista de Discos Que a Gilez Não Toca, nova seção em 1.430 partes que começa com All Things Must Pass, obra-prima do George Harrison.

Tenho a tese que o George foi o beatle mais subestimado. Mais que o John e Paul - com eles acontece o oposto até - e mais que o Ringo. Porque ninguém espera muito do Ringo: quando ele faz algo tri, todos se espantam. Quando faz merda, todos dão risada e pensam "ha, esse Ringo". O George ninguém sabia que cantava ou que escrevia boas músicas até 1969, quando largou no disco Abbey Road a assombrosa Something - melhor solo de guitarra da história, melhor balada do rock.

E, no ano seguinte, o mundo viu que John e Paul ficavam escondendo um grande músico quando ele lançou All Things Must Pass. Um disco TRIPLO com canções geniais, vocais cantados com gana, guitarras do Eric Clapton a rodo. Anões de jardim na capa. Timbrões de bateria e violões. Billy Preston nos teclados. Represada por anos, a música do beatle mais jovem nunca foi tão boa quanto entre maio e agosto de 1970. Está fora da nossa área de atuação, mas sempre dentro das minhas playlists. Saiba mais a respeito aqui, mas dê um jeito de baixar: falo pouco do disco porque música é para se escutar, não ler.
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11.5.06

Ringo Drops - Parte II


Segue a série "35 bateristas fazem perguntas para Ringo Starr":

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Pergunta de Clem Burke (Blondie)

Clem: É verdade que você é canhoto? Se for, o quanto você acha que o fato de tocar em um kit para destros contribuiu para o seu estilo único?

Ringo: Nasci canhoto, mas minha avó achava que ser destro seria melhor, então ela tentou mudar isso. Foi esquisito, porque escrevo com a mão direita, corto coisas com a mão direita, mas quando jogo golfe, cricket ou dardos, sou canhoto. Muitas das minhas viradas soam estranhas porque tenho que começá-las com a mão esquerda, que está sempre debaixo da mão do chimbal, tocando a caixa. Tenho que me organizar num piscar de olhos para fazer as viradas. Isso fez com que meu estilo ficasse diferente.


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Eu: Um bom exemplo desse "estranho" a que o Ringo se refere, pode ser ouvido em "Ticket to Ride". Uma sequência de viradas com tempo ímpares que deixam qualquer baterista (mortal) com um nó na cabeça na hora de reproduzir.
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10.5.06


Finalmente

O segredo está revelado: o disco que toca todas as noites no Vermelho 23 se chama At Last, da Etta James. É um puta disco.

Quem costuma freqüentar o bar, onde nos apresentamos mensalmente, já percebeu que o Zé Maria e o Jair (Alemão), os donos da bodega, gostam muito de alguns cds. Mas, assim, gostam meeeeesmo. Tem um da Nina Simone, outro do Eric Clapton, um do Freddie King, outro do Albert King e um de um cara que toca rocabilly e que eu nunca descobri quem é.

E tem At Last. Um dos melhores discos que eu ouvi na vida. Sem dúvida figura na minha lista dos melhores de todos os tempos. E, entre os poucos cds à disposição no bar, esse é um dos que mais toca. O que é muito bom. Em que pub do mundo o cidadão de bem, pagador dos seus impostos, pode entrar e ter convicção que ouvirá um dos dez melhores discos de todos os tempos?

At Last é um disco cinco estrelas. Não só pela qualidade, mas pelo luxo e elegância dos arranjos. A orquestra do Riley Hampton fez um trabalho magnífico. À primeira vista, é um álbum de jazz, mas o grande mérito do tio Riley foi simplificar os arranjos para que casassem melhor com a voz da Etta, que era uma pirralha na época. Acabou virando um disco de música popular. É difícil de definir o gênero - e isso é sempre um bom sinal.

A Etta não é uma cantora de jazz. É uma cantora de blues, com muito de R&B. Ela grita, ela berra. Ella Fitzgerald permanentemente bêbada e violenta? Algo assim. É o primeiro LP dela, pela lendária Chess. Até ali, 1960, ela tinha tido apenas dois singles de R&B. Analisando o contexto, vocês podem entender melhor porque eu admiro o disco. É o álbum de estréia de uma pirralha que adora gritar. O acompanhamento é de uma orquestra, o repertório é de jazz e algumas canções de blues. Não tinha como funcionar. Ainda assim, mesmo com os ataques histéricos da Etta (que ainda está viva e trabalhando), e o disco é incrivelmente sofisticado. Tem cheiro de uísque 12 anos. Tem toque de veludo cotelê.

Um dos grandes méritos é da própria Etta James. Ela colocou energia nas canções. Me irrita às vezes a frieza dos músicos de jazz. Tecnicamente perfeitos, mas sem alma. Não é o caso desta intérprete. Em Trust Is Me, minha favorita, a Etta começa comportada, levemente sedutora, e termina aos berros, carregada pelo arranjo de cordas - sempre bem posicionado no disco todo. Alguém lembra daquele comercial da Antartica, com a modelo porto-alegrense Patrícia Silveira derramando cerveja no peito, convidativa? Faixa 9. Stormy Weather.

Em todas as músicas, tem uma guitarrinha fazendo frases singelas, despretenciosas. Parece que o guitarrista tava num canto do estúdio, escondido, tentando não incomodar. Acabou acertando em todos os compassos. Quisera eu ser o homem por trás daquelas seis cordas. Um baluarte do minimalismo, esse movimento guitarrístico silencioso que poucos se atrevem a defender. Nunca descobri o nome do sujeito. Pistas neste guichê.
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7.5.06


Buck Owens, 1929-2006

Morreu o Buck Owens. Dia 25 de março, dormindo, depois de uma apresentação. Aparentemente, essa notícia não tem nenhuma importância. Ninguém no Brasil se importa com legendas da música country americana. Ele era daquelas figuras onipresentes na mídia deles, teve um programa humorístico na TV por décadas. O seriado era tão popular que as novas gerações nem tem noção da importância que ele teve para a música popular americana. Só o reconhecem como o tiozinho da TV.

Basicamente, ele modernizou a música country. Ao longo da carreira, acabou com os tradicionais violinos. E era um puta guitarrista, viciado em telecasters, como mostra a foto. Um bom vício.

Além de homenagear o seu legado musical (e da chance de publicar essa foto), achei importante citar o tio Buck no blogue porque ele ficou famoso ao lançar a canção Act Naturally (composição de Voni Morrison e Johnny Russell, me conta o All Music), também conhecida como a Música que o Tiago Canta. Foi o primeiro hit do tio Buck, em 1963, que enfileirou outras 20 canções no topo da parada country americana. É mais uma daquelas músicas que todo mundo pensa que é dos Beatles - incluindo eu, por muito tempo. Se liguem na foto de divulgação de época. Que maravilha:



Torço que o paraíso para ele seja um grande jardim onde telecasters dêem em árvores e os próprios troncos sirvam de amplificadores.

O obtuário dele no site da Fender está ótimo.
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6.5.06

Balanço crocante

Eu tenho curtido muito mais os shows no Vermelho 23 desde que começamos a fazer repertórios um pouco menores. Antes era um loucura, 40 músicas numa noite, o cara se acabava. Ontem, na despedida da amiga Rosele, achei a coisa bem dosada. Público bem animado e banda segura. Grande estréia de California Girls no repertório, um sonho tornado realidade. Na segunda, no ensaio, o Márcio não tinha gostado da versão. Ele estava errado. Tenho gostado muito também de tocar violão em algumas músicas, acho que deu uma variada importante nos arranjos, mesmo que a platéia nem sempre se dê conta dessas coisinhas.

Abaixo, uma palinha para quem não foi. Let´s twist again, do Chubby Checker. Dêem um desconto para a qualidade. Material colhido com minha câmera digital, pelas mãos da digníssima, a Sílvia. Eu quase não apareço!

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3.5.06


Não esqueçam!

Tocamos nesta sexta, dia 5, no Vermelho 23 (Bento Figueiredo, 23).

Despedida da Rosele Martins, amiga nossa da ZH.

O Bom Fim vai tremer.

Consumação é 9 pilas.
O couvert é 6 pilas.

O show nunca começa antes das 23h30 ou muito depois da meia-noite.

A Assembléia Legislativa proibiu a cobrança de consumação nos bares do Estado. Ainda não temos uma posição da direção do Vermelho 23 sobre quais serão os procedimentos de cobrança. Suspeito que a lei será ignorada por enquanto.

Be there or be square.
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2.5.06

Hey, y´all!

Gosto muito da música country americana feita entre nos anos 50 e início dos anos 60. No feriado, viajei mais de mil quilômetros pelo pampa gaúcho e ouvi Patsy Cline, Johnny Cash, Hank Garland (o mestre! da foto) e Chet Atkins. Cenário e trilha em total harmonia. Tenho a tese que poucas vezes se fez uma integração tão perfeita entre o tradicional e o moderno quanto naquela época.

A irmandade entre as inovações (guitarra, o lap steel) e o conjunto tradicional da música popular rancheira é eterna e autêntica (no sentido de verdadeira, e não de inovadora). História, fundamental, clássica. Incrível como as guitarras (telecasters, telecasters, telecasters e algumas gretschs) não agridem o ouvido e não tentam se impôr ao resto do conjunto, como acabou acontecendo na evolução da música popular americana - o rock - ao longo dos anos 50.

Imagino que houve oposição dos caipirais tradicionalistas à guitarra elétrica naqueles anos. Algo inócuo, por supuesto, visto que a guitarra e o lap steel se tornaram artigos indissociáveis do universo country até hoje. Tenho uma explicação histórica para o sucesso desta associação: o meio-oeste americano - e o Interior dos EUA como um todo - viveu seus grandes dias no pós-guerra, enquanto Leo Fender criava os instrumentos mais bacanas do mundo. O meio-oeste era o celeiro do mundo. Dallas, outra cidade fundamental para a música country, era acapital da pecuária americana. Com o progresso, havia aplicação de recursos em tecnologia e cultura. Por isso, Nashville, Memphis e Dallas se transformaram nos centros culturais da América na década de 50.

Ao contrário do Brasil, onde o desenvolvimento econômico não é sinônimo de explosão cultural, a música americana se beneficiou sobremaneira dos pilas do campo. Minha tese, enfim, pessoal e intransferível, é que a guitarra elétrica (sinônimo de modernidade) casa tão bem com a música country daqueles anos porque o progresso e o campo tinham tudo a ver.

Fiquei imaginando porque a guitarra elétrica nunca foi bem utilizada na música caipira brasileira (não é a sertaneja porcaria que me refiro), que tem umas coisas bem legais, apesar da breguice e dos arranjos ruins. Cheguei a conclusão que o campo brasileiro nunca foi sinônimo de avanço. Melhor: quando o campo brasileiro foi sionônimo de prosperidade (como nos últimos 10 anos), não havia transformação cultural pronta para ocorrerta. A guitarra elétrica era notícia antiga na última década, não faz mais tanto sentido essa integração. Agora, ocasamento "moderno" seria entre música eletrônica e Tonico e Tinoco. Talvez seja um pulo muito grande. Talvez seja uma boa idéia para minha carreira solo.

Ei, foram mil quilômetros, tive tempo para pensar em muita bobagem.
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1.5.06

Ringo Drops - parte I

Sou assinante da Modern Drummer, a principal publicação sobre bateria no planeta. Recomendo a leitura aos bateristas, tanto pelos exercícios oferecidos, como pelas matérias publicadas.

Um exemplo disso está na edição brasileira de dezembro passado: "35 bateristas fazem perguntas para Ringo Starr". Como fã e baterista, me sinto na obrigação de socializar esse conteúdo. Farei isso publicando as respostas em pequenas doses e comentando o que achar pertinente.


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Pergunta de Dennis Diken (The Smithereens)

Dennis: Quais foram os seus ídolos? Existem discos ou bateristas em especial os quais você afirme serem sua grande inspiração?

Ringo: Todos que me conhecem sabem que sempre menciono o Cozy Cole. Ele gravou uns discos chamados Topsy part 1 & 2, que foram os únicos discos de bateria que cheguei a comprar. Gene Krupa é indispensável também. Costumava vê-lo em filmes da época. E Al Jackson é claro, em todos os maravilhosos discos que gravou. São estes três mas nunca comprei discos pela bateria e sim pela sonoridade como um todo. Sinto que essa é minha maneira de tocar. Toco com a música e com outros músicos. E nâo compro discos por solos de bateria. Apesar de que, até onde sei, John Bonham fez o melhor solo de que já se teve notícia. E tocou aquilo com as mãos [risos].

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Eu: Dessa influência jazzística que o Ringo teve (Cole e Krupa), eu gosto muito do que ele criava para as viradas. Podia ser acentuando as notas em uma virada na caixa (como na parte antes da estrofe de When I get home); ou fazendo as esteiras rufarem preparando a música para o refrão (Nowhere Man).
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