Conjunto Musical Gilez

Os Anos Dourados foram reluzentes demais para serem esquecidos.

18.7.06

Melhor disco de todos os tempos


Me chamem de irresponsábel (DARIN, Bobby), mas o veredito é definitivo. O melhor disco de todos os tempos é de um guitarrista obscuro que gravou um disco fenomenal no início da década de 60 com um equipamento de gravação horroroso. Algumas canções são obviamente ao vivo, outras não. Eles provavelmente estão num buteco qualquer. Não dá para entender direito.

Eu nunca tinha ouvido falar no tal de Jimmie Rivers até poucos meses, ao cruzar com o trabalho do Jim Campilongo, que é um guitarrista fenomenal, um dos poucos "modernos" que eu consigo ouvir. Campilongo cita Rivers como uma das suas principais influências e eu resolvi ir atrás para conferir.

Demorou meses até que eu achasse alguém no Soulseek que tivesse o Brisbane Bop, o solitário álbum da carreira deste sujeito maravilhoso. Eu ainda não consegui baixar todas as músicas. São 19 e eu estou na número 11 recém. Faz mais de um mês que eu estou tentando baixar. Consegui as primeiras oito num sábado chuvoso e o resto está vindo a conta gotas. Hoje baixei mais quatro, entre elas o clássico After You´ve gone, do Django. O puto do carinha que pirateou o disco nunca está online.

O conjunto é um quarteto (guitarra, lap steel, batera, baixo acústico), todas as canções são instrumentais - exceto uma, que tem uma letra genial, aliás, It´s all your fault. Como definir o clima para o grande público que nos lê neste momento? Algo como caipiras-que-ouviram-muito-jazz. E quase deixaram de ser caipiras. Algo assim. O Jimmie Rivers com certeza tinha todos os discos do Charlie Christian, o que só depõe a favor da sua inexistente biografia.

Quando eu crescer, vou fazer um show tocando todas essas músicas, tirar tudo nota por nota, lançar por uma grande gravadora e ficar rico e famoso. Aposto que só um ou dois paspalhos vão descobrir a farça.

Ei, acabo de encontrar novas informações. Jimmie Rivers e os Cherokees tocaram por seis anos seguidos num bar chamado 23 Club, em Brisbane, na Califórnia. Que tal? Já vou deixar uma data agendada no Vermelho 23, o querido buteco que a gente toca mensalmente, para o meu tributo.
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15.7.06

Discos que a Gilez TOCA - 1

Não somos famosos, somos desconhecidos. Portanto, de que vale apenas dizer o que a Gilez não toca? Vamos falar também mais sobre o que tocamos, oras. (A série "Discos que a Gilez não toca" continua, e aceito sugestões, porque ouvir outras coisas é fundamental.)

Abre a nova seção deste blog o disco que, junto com a trilha sonora de "Backbeat", deu o pontapé inicial na Gilez, em 2001: Run Devil Run, de Paul McCartney. Lançado em 5 de outubro de 1999, o álbum foi gravado à moda antiga pelo mestre: pegou uma banda - David Gilmour (guitarra), Mick Green (guitarra), Ian Paice (bateria), Pete Wingfield (teclado), Dave Mattacks (bateria) e Geraint Watkin (teclado) - e passou uma semana gravando. Bom, o primeiro disco dos Beatles foi gravado em um dia, então o Paul certamente sabia como se faz.
A idéia foi um disco-memória, com músicas da época de guri - clássicos do Elvis Presley, Big Joe Turner, Carl Perkins, Gene Vincent e Chuck Berry. Outras três ele compôs, no mesmo espírito vintage. O disco tocou ad infinitum no meu toca-fita do carro em 2001, assim como nos sons do Márcio e do Santi, e o resultado foi que enchemos nosso repertório com músicas desse álbum. Quando mal tínhamos 10 músicas, essas três entraram:

* All Shook Up - o Paul fez uma versão muito guitarreira para esse clássico do Elvis. Virou festa e, com o Márcio no vocal, já agitou do Garagem Hermética ao Leopoldina Juvenil.

* Party - Por falar em festa, essa aí não tem comparação. É raro provocar frisson na platéia com uma música meio desconhecida, mas com essa é garantido. É outra versão que o Paul fez de uma gravação do Elvis - a gravamos a pérola na nossa demo.

* Lonesome Town - Balada maravilhosa sobre corações partidos, também conhecida na versão do Ricky Nelson que toca no filme Pulp Fiction.

Todo o resto do disco é ótimo, com destaque pro vocal do Paul em "No other baby" e "Shake a hand", uma aula de agudos, e para a guitarra do David Gilmour em todo o álbum. É o guitarrista mais classudo do universo. Timbres antigos, produção sem grandes frescuras, o álbum deu uma direção claríssima para a Gilez no início: na dúvida, copie o Paul McCartney.
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10.7.06

Discos que a Gilez não toca - 3

Larry Graham é o sujeito que inventou o slap no baixo elétrico. Slap é uma técnica de puxar e bater nas cordas, fazendo o baixo soar muito percussivo. É só ouvir o Red Hot Chilli Peppers para saber o que é - o Flea é mestre no assunto.
Ele ainda por cima inventou o slap tocando na melhor banda black de todos os tempos para mim: Sly and Family Stone. Imaginem um bando de gente, todos tocam muito, têm muito suingue, e cantam juntos. Isso era a banda do Sly, cujo baixista consagrou o slap.
A introdução é só para situar o protagonista do terceiro post da série, hoje com o disco Graham Central Station (1973), o primeiro de Larry com a banda que montou depois de sair do Sly. O disco começa com uma música acapella (só vozes) dizendo coisas como "estávamos esperando tanto / queremos tocar pra vocês algumas das nossas músicas". Saudade de quando letras podiam ser só isso. Depois entra puro soul e funk numa seqüência de canções arrasadoras. Na GCS, assim como no Sly, todos cantam (e muito), juntos ou separados, mas há um clima mais moderno nos arranjos, com mais guitarra solando à funkadelic e clavicórdio garantindo o ritmo cheio de manha. Isso tudo para o baixo do Larry Graham brilhar em frases ótimas, às vezes levando toda a música para frente.
É óbvio que a escolha do Graham Central Station e não de algum disco do Sly como "Dance to the Music" é corporativa - os baixistas, sempre escanteados, promovem uns aos outros. Mas também é musical: som black da melhor estirpe.

Discos anteriores:

All things must pass - George Harrison

Indestructible - Ruben Gonzalez
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1.7.06

Versatilidade


Ok, eles foram geniais. Isso não se discute mais. O que podemos debater é o motivo pelo qual o conjunto musical Beatles chegou onde chegou. Certa vez fui questionado por um amigo: "Os Beatles são geniais por causa das músicas que fizeram ou as músicas são geniais porque foram feitas pelos Beatles?"

É uma dúvida muito pertinente. Não há dúvidas de que os Beatles são o maior fenônemo pop de todos os tempos. Os 4 integrantes da banda já transcenderam a categoria de mortais e hoje são deuses... mesmo os dois que continuam vivos. Então... eles são deuses porque suas obras são fenômenos ou suas obras são fenômenos porque eles são deuses?

Na opinião de quem vos escreve, os Beatles são gênios por sua capacidade de compor obras geniais. E a razão pela qual suas canções atravessaram gerações e continuarão atravessando me parece elementar : versatilidade.

Se listarmos os 13 álbuns em ordem cronológica, é impossível comparar por exemplo o Please Please Me com o Abbey Road ou o ainda o A Hard Day's Night com o Let it Be. Ok ok... podem me acusar de injustiça ao pôr lado a lado discos tão distantes um do outro. Peguemos então o Magical Mystery Tour e contrastemos com o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, obras lançadas em seqüência. São completamente diferentes.

Outro amigo (sim, tenho muitos amigos) abordou-me com um questionamento interessante: "Eu quero começar a ser instruído em Beatles. Por qual disco devo começar?"

Respondi: "Depende"
Ele: "Ok... vou reformular: Qual deles melhor retrata o que eles realmente foram?"
Eu: "Impossível dizer. Os discos são muito diferentes um do outro e possuem características peculiares que os tornam únicos. Eu por exemplo ouço os discos dependendo do meu humor do momento e em épocas diferentes da minha vida, já tive diferentes discos favoritos dos Beatles. Meu disco favorito uma vez era Please Please Me. Há algum tempo era o Sargeant Pepper's e logo em seguida foi o Abbey Road. Depois passou a ser o Magical Mystery Tour. Hoje o meu disco preferido dos Beatles é o Hard Day's Night. E isso é o mais legal dos Beatles: eu NUNCA vou enjoar."

Como esse meu amigo tem um histórico de curtir coisas psicodélicas como discos do Led e camisetas do Greatful Dead, acabei indicando pra que ele começasse com o Sgt. Pepper's. Claro que a decisão foi tomada em conjunto com o Alexandre de Santi. Nunca tomaria uma decisão tão importante quanto essa sozinho. É responsabilidade demais para um mortal. Já se eu fosse um deus...
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